quarta-feira, 23 de março de 2011

Nomes aos bois


Meu blog Pesadelo Verde provocou comoção: literalmente dezenas de verdes e militantes do movimento Marina Silva se solidarizaram. E, claro, os que sentiram criticados reagiram com fúria em reuniões fechadas onde articulam os minúsculos círculos decisórios do partido. Virei, evidentemente, o mais vil dos mortais. A burocracia tem medo da insegurança que traz qualquer mudança. É da vida. Mas não penso neles nesse instante. Gostaria de discutir um pouco é com a turma do “deixa disso”.
Quando dois entes queridos da família começam a brigar nossa primeira reação é justamente o “deixa-disso”. Num partido-quase-família é natural que ocorra. Apelos pela unidade, unidos venceremos, desunidos cairemos, coisa e tal. “Não devemos personalizar”, dizem. Mas como não fazê-lo se o “x” do problema é o comportamento de pessoas? Não há como tratar da crise do PV sem discutir a pretensão do presidente Penna em garantir seu décimo quarto ano --o décimo terceiro já foi acordado na reunião da Executiva-- nas melhores condições: pressa e insegurança do ano eleitoral, depois do prazo fatal de filiação e possivelmente depois de uma planejada adesão ao governo que certamente aportará “reforço” a esse tipo de pretensão. É acaso normal, mesmo em partidos quaisquer, alguém, depois de 12 anos, ser ungido novamente e indefinidamente presidente???
Entre partidos verdes então isso é impensável, nos raros que sequer têm presidente. A única exceção é o grotesco PVEM mexicano criado como linha auxiliar do PRI e que promoveu uma sucessão hereditária de Jorge Gonzalez pai para Jorge Gonzalez filho. É esse tipo de partido que queremos??? Parece que sim, que a piadinha do Penna Forever começa a assumir contornos de seriedade. Portanto não há como não personalizar quando o problema é uma pessoa. Defendo a despresidencialização desse nosso partido parlamentarista com o estabelecimento de dois anos no máximo de mandato para um novo --qualquer que seja-- e ainda esse ano! Penna é um grande companheiro, com muitos serviços prestados ao partido, um ser humano com nobres qualidades que precisa ser salvo de si mesmo. Ajudado a largar essa obsessão que periga destruí-lo. Se na família é necessário um sincericida para avisar o tio que está pirando e que não dá mais, aqui estou eu com armas e bagagens. Posso me dar ao luxo de vocalizar o que tantos sussurram a boca pequena.
Não posso também deixar de “personalizar” no caso de Zequinha Sarney autor da proposta Pena Forever 2011-12 (já de olho tático em 2013...). Um parlamentar de atuação ambientalista impecável pelo qual também tenho grande estima. Como político não se libertou da cultura oligárquica na qual se formou. É eventualmente dado aos ardis e às rasteiras. Quis promover nosso casamento com o PSC, fez autocrítica disso mas, muito recentemente, tentou trazer –ele próprio anunciou na reunião, eu não sabia-- o pra lá de desmoralizado prefeito de Salvador. Por ele atrairíamos praticamente todos os políticos tradicionais disponíveis e nos tornaríamos um partido de médio porte, predominantemente fisiológico, chamado de verde e cuja integridade em ações parlamentares e de governo tentaríamos manter pela força de uma direção absolutamente centralizada. É uma concepção de partido. Discordo dela.
Não tenho então como, ó turma do deixa-disso, dar os nomes aos bois e dizer que tenho uma grande discordância com meu amigo --espero que continuemos a ser-- Penna em relação a essa sua piração do forever e com meu estimado Zequinha quando saímos do campo de batalha parlamentar ambientalista (onde estaremos juntos em todos momentos) e vamos para o da identidade partidária, onde ele próprio é o meu limite. À sua direita --em termos de cultura política-- mais ninguém. Para esses está aí o novo partido do Kassab e alguns outros.
Novo partido verde? Não é absolutamente minha intenção, nem de Marina, nem de nenhum de nós. Seria o caso extremo de um final de linha que estou seguro não precisará acontecer. No blog passado quando falei em “começar de novo” me referi primordialmente a regressar às bases verdes para mobilizar. Mas evidentemente se no final do final dessa linha, esgotadas todas as possibilidades o partido ficar definitivamente descaracterizado com uma presidência ditatorial, vitalícia, e uma composição esmagadoramente fisiológica ninguém tenha dúvida que teremos, para além do que será uma sigla oca, um verdadeiro partido verde com Marina, Gabeira, Sirkis e todos que acreditam nisso. E muitos outros. Rezo pela sensatez e estou certo que conseguiremos superar essa crise sem saídas extremas. Mas nunca duvidem da nossa determinação.
O que nos resta então? Há um processo consensual de: 1) revisão de aberrações estaduais como Rondônia, Amazonas, Mato Grosso e alguns outros onde o PV se vendeu ou apequenou dramaticamente. Espero que os acordos para a decisão da semana passada não a tenha inviabilizado. 2) Os seminários estaduais e nacional sobre O PV dos anos 10 3) O Congresso Programático. Estaremos nesse processo mobilizando as bases e o eleitorado verde para a discussão do partido-rede. Esperamos no curso desse processo rever a questão da convenção e pactuar a integridade do partido em bases minimamente democráticas e que abram as nossas comportas, corações e mentes para o extraordinário movimento que aconteceu nas eleições de 2010.


Presidências...


Há quem tente me impingir incoerência em relação a oposição ao forever lembrando que fui presidente nacional do PV oito anos e que sou presidente no estado do Rio há quase sete. Poderiam até ter lembrado que, num certo período, me chamavam de Ulysses Guimarães do PV porque era presidente nacional, estadual e municipal. É verdade.
Mas é verdade também que dos oito que fiquei na presidência nacional passei quatro tentando sair e, na época, praticamente obrigado a ficar pelo grupo de SP até, que, para minha suprema felicidade, consegui promover uma transição democrática e, em 99, uma convenção memorável para passar o bastão para o Penna. Ele ganhou por um voto de Rogério Portanova numa eleição convencional não estatutária da qual hoje me penitencio como um erro porque penso que foi ali que nasceu esse presidencialismo no PV. Estatutariamente a convenção elege o Conselho, que elege a Executiva, que elege (e pode trocar) o presidente que, na verdade, é da Executiva não do partido. Mas nosso partido parlamentarista depois daquela eleição simbólica --combinamos a executiva iria oficializar-- acabou se submetendo à cultura presidencialista dos partidos brasileiros e gestando algo que corre o risco de se transformar numa grotesca aberração. Exerci a presidência do PV de forma sempre a buscar consensos e consultando e deliberado permanentemente com o então núcleo dirigente do qual Penna fazia parte e por uma questão de honestidade certamente reconhecerá. Nunca criei um politiburo em separado de aliados para tomar decisões nas costas dos outros dirigentes.
Logo depois de deixar a presidência nacional, o fiz também com a estadual RJ. Em nenhum dos casos ninguém me pressionou para tanto. Simplesmente senti que era chegado meu tempo e que se fosse me apegar àquilo iria ser ruim para mim e para o partido. Infelizmente no caso do Rio o partido foi ocupado por um politico tradicional jovem e pouco escrupuloso que descaracterizou completamente o PV –salvo no município do Rio-- e o levou a sucessivas crises que só acabaram com a intervenção depois do escândalo de corrupção-extorsão que envolveu seu sucessor. Nesse contexto voltei a presidência do Rio.
Essa semana vou apresentar uma proposta de transição democrática a para o PV do Rio que vai se iniciar na capital com um processo de eleição pelos filiados devidamente certificados ainda no primeiro semestre desse ano. O passo seguinte será estendê-lo para o estado quando espero alegremente passar o bastão com certas garantias de que não aconteça de novo aquilo de 1999, de sermos ocupados pelos fisiológicos e o partido no interior e na baixada fluminense virar legenda de descarrego e linha auxiliar de tenebrosas forças da velha política como aconteceu nos anos 90, até 2004.
E mais: meu maior sonho é passar o bastão para uma nova geração de verdes.
Finalmente: jamais usei o fato de ter dirigentes ou militantes verdes lotados nos meus gabinetes para coagi-los a votarem comigo em embates partidários ao contrário do clima de medo que outros têm instalado nos seus. Sempre tiveram toda liberdade de eventualmente não apoiar minhas posições. Aquando assisti, na quinta-feira, pessoas votando contra suas convicções por esse tipo de vínculo, acordos análogos para a perpetuação da mediocridade em estados e órgãos dirigentes, realmente doeu, embora não seja novidade. Mas, como diz Marina, não somos uma fraude. Praticamos o que defendemos e vamos continuar assim.

Texto Alfredo Sirkis





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